domingo, 24 de outubro de 2010

Uma Europa a dois ritmos: predominância rural e dinamismo dos centros urbanos; as hesitações do crescimento

A predominância rural; principais alterações na economia agrícola

No século XVI, estávamos perante uma Europa pré-industrial, com uma economia fundamentalmente agrária, apesar do dinamismo crescente das actividades mercantis e da mundialização das rotas comerciais europeias. A estrutura dominante das sociedades europeias da época era, sem dúvida, o mundo rural: os camponeses eram o estrato social mais numeroso, perfazendo bastante mais de metade da população total e mesmo noutros grupos sociais, muitas pessoas necessitavam da agricultura para sobreviver. Contudo, no período entre o século XV e o século XVI, a agricultura sofreu algumas mudanças e progressos.

O crescimento demográfico que se verificou nessa época providenciou mais mão-de-obra, e mais barata; contudo, tornou-se necessário um aumento da produção agrícola para possibilitar a alimentação desse excedente populacional.

A Revolução Comercial ultramarina, que trouxe novos produtos das terras descobertas e o novo espírito capitalista (com o objectivo principal de obter lucro) dinamizaram os mercados. Por estas razões, registou-se um desenvolvimento da prática agrícola, com mudanças tais como: o aumento da produção (embora nem sempre da produtividade), extensão das áreas cultivadas (com medidas como a secagem de pântanos, aproveitamento dos terrenos baldios, conquista de terras ao mar…), a rotação de culturas e recuo do pousio, vedação das propriedades – enclosures, intensificação da cultura de cereais, introdução de novas culturas (milho, batata…), incremento da ganadaria e novas técnicas de irrigação e adubação.

A decadência do senhorio e do regime feudal possibilitou uma maior liberdade dos trabalhadores das terras, uma diminuição dos impostos (corveias), e a celebração de contratos entre os senhores e os camponeses. Estas alterações levaram a que a burguesia mercantil introduzisse nos campos um espírito mais comercial.

A estagnação da economia agrária no século XVII

Todos os processos referidos anteriormente só foram aproveitados completamente em Inglaterra, Holanda e Flandres, tendo as restantes regiões sido afectadas pelas duras condições de vida que se faziam sentir e estagnado a sua economia.

Esta estagnação aconteceu devido ao facto de os camponeses terem deixado de investir nas terras, porque os arrendamentos eram contratos bastante precários, sendo que o senhor podia despedi-los ou aumentar a renda a qualquer momento, e se deu um aumento do valor das corveias – para que este grupo social pudesse sustentar todos os gastos excessivos da nobreza e do clero. Para agravar esta situação, viviam-se também os flagelos das pestes e dos maus anos agrícolas.

Todos estes factores, levaram ao aumento significativo do desemprego agrícola, ao abandono dos campos e ao regresso à agricultura apenas para subsistência. Foi nesta época que se deu início ao processo do êxodo rural.

O dinamismo dos centros urbanos

A Idade Moderna caracterizou-se fundamentalmente por dois fenómenos essenciais: o desenvolvimento da burguesia e a concentração demográfica nas urbes.

Nós séculos XVI e XVII deu-se um grande crescimento das cidades, que eram quase sempre bem situadas geograficamente, capazes de oferecer boas condições de administração e segurança, onde se situavam os grandes mercados e as sedes das empresas da burguesia.

Grandes fluxos populacionais foram atraídos, do campo, para os grandes centros populacionais na esperança de obter uma melhor qualidade de vida e mais oportunidades. No século XVIII, algumas cidades já tinham atingido mais de um milhão de habitantes. Os principais mercadores urbanos foram os responsáveis pelo crescente dinamismo mercantil e financeiro e os mais importantes criaram companhias comerciais com filiais espalhadas por toda a Europa, como foi o caso dos Médici e dos Függer.

As hesitações de crescimento: crises cerealíferas, crises de subsistência e crises demográficas

Numa perspectiva mais genérica, podemos dizer que os séculos XV e XVI foram tempos de crescimento, tanto demográfico como económico, e que se registou depois uma depressão que se prolongou até finais do século XVII. Os períodos de 1560-80 e 1715-20 foram marcados por uma sucessão de crises, provocadas por variados factores. Factores esses:

à Condições climatéricas pouco favoráveis ao desenvolvimento da agricultura (invernos muito chuvosos, geadas primaveris que apodreciam as sementeiras, secavam as flores e murchavam os frutos antes de amadurecerem). Deste modo, sucederam-se anos de más colheitas que provocaram a carestia dos alimentos, principalmente dos cereais (base da alimentação), inflação e fome.

à Elevados níveis de mortalidade, que afectaram a mão-de-obra disponível, provocados pela ausência de higiene, condições de trabalho, pestes…

à As guerras, que tiveram influencia nos altos níveis de mortalidade anteriormente referidos, destruição e devastação nos campos agrícolas, dando origem à subida dos impostos e à paralisação das actividades económicas.

Crises de subsistência, pestes e guerras formavam um círculo vicioso, podendo o aparecimento de um destes factores originar o aparecimento dos restantes. A coexistência de mais de um deles numa região durante um período de tempo mais prolongado dava origem a uma crise demográfica. As crises demográficas nesta época eram sucessivas e condicionaram, sem dúvida, as mentalidades, a economia e a sociedade de forma bastante profunda.


1 comentário:

  1. Deveria ter explicado como se aumenta a produção, sem aumentar a produtividade.
    Quanto ao resto parece-me bem.
    O texto está bem estruturado e claro.
    Tem que avançar com mais rapidez, pois falta ainda, refletir acerca de vários conteúdos.
    Bom trabalho

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